segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Capítulo 11 - O enigma do 21:21

O enigma do 21:21

Há um tempo atrás, não muito distante, ainda namorava o primo, comecei a notar que sempre que olhava o relógio era 21:21.
Comecei a achar estranho, comentei com algumas pessoas mas essa hora continuava me perseguindo.
Estava na rua, alguém me perguntava a hora e então ... 21:21.
Estava em casa, esperando um filme começar e quando olhava a hora ... 21:21.
Um dia estava numa avenida a pelo menos 80km/h e quase bati o carro num caminhão quebrado sem nenhuma sinalização dentro de um túnel, olhei no painel do carro e que hora era?
O belo dia em que o primo terminou comigo, assim que ele saiu do meu quarto fui ver a hora ... aham, 21:21.
Comecei a encarar isso como algo ruim.
Depois de alguns dias solteira reencontrei uma amiga da época da faculdade.
Comecei a contar para ela a historia do 21:21. No final ela me disse que ela nasceu 21:21!
Começamos a rir juntas e pensei que até poderia ser o sinal de algo bom, o fim do namoro foi bom, a “quase batida” me fez ficar mais atenta, minha nova amiga de baladas tinha a ver com o fato também e meu aniversário é 21/12, se trocar 21 e 21!
Não acredito muito nessas coisas mas esse horário mexeu comigo, só eu sabia com aquilo me perseguia e me fazia rir sozinha sempre que me deparava com o fato.
Bom, sábado passado aconteceu algo diferente.
Me arrumei para sair para um dos lugares que mais gosto, o famoso “Stones” e antes de sair fui ver a hora. Sim, 21:21. Fiquei me perguntando o que poderia representar isso naquela noite. Seria um fiasco ou algo muito bom.
Bom, a noite me resultou algo muito bom, muito, muito bom.
Esse será um novo capítulo ... aguardem! 

sábado, 20 de novembro de 2010

Capitulo 10 – O fim, ou melhor, o começo

Talvez tudo o que eu tenha tentado fazer esse tempo todo foi substituir a ausência do meu pai colocando sempre um homem em minha vida, é uma boa teoria.
Talvez eu tenha aprendido a sonhar com a minha Barbie e tenha criado na minha cabeça que isso é o certo.
Ou talvez eu seja apenas uma pessoa solitária, que sente a necessidade de ter alguém por perto. E quem fica mais perto do que um namorado?
De todos esses romances o que me restou foi o aprendizado, ah, não posso esquecer é claro do Techno. Ele continuou meu amigo.
Mas depois de muita reflexão eu desisti de tentar entender o porquê de tudo isso que vivi. Eu sei que vivi cada historia, que sonhei com cada um, da minha forma.
Eu chorei quando foi necessário, gritei e amei. Eu tive a oportunidade de fazer parte de um pedaço da vida de cada um e rezo por todos com freqüência.
Amanhã eu não sei como será, mas eu ainda sonho.
Eu sonho com um passe de metro na mão e os joelhos bambos, andando em direção a alguém que não consigo ver o rosto, mas ele esta parado, me esperando do outro lado da catraca.
Ele vai ter seus diversos defeitos, mas eu vou superá-los, eu só preciso que ele esteja “ali”, o resto a gente resolveu.
Ah, e o que farei por enquanto? Baladas, é claro 

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Capitulo 9 – O Primo

Me dói falar dessa historia pois é ela que vivo hoje, ou melhor, é o fim dela que vivo hoje.
Mas vamos lá, hei de superar!
O primo tinha 27 anos, eu estava com 26. Ele morava há uns 20 minutos da minha casa, era baladeiro, alto, branquinho, cabelos e olhos castanhos e um rostinho bonito mas muito magro para o meu gosto.
Acontece que apenas conversávamos e eu ate percebia algumas indiretas, mas pera lá, era meu primo!
Um dia resolvemos sair e ele veio ate minha casa (ufa, chega de metro). Estacionou o carro e eu entrei, ali ficamos por algumas horas conversando e um beijo surgiu.
Bom, eu não fiquei animada, primeiro ele era meu primo, segundo ele não me atraia fisicamente.
Só que por ironia do destino o primo ligava, queria me ver com freqüência e eu achava isso bonitinho, eu correspondia só Deus sabe o porque.
Nos víamos sempre, íamos em barzinhos, conversávamos pouco, ele era de poucas palavras, mas me despertava algo diferente.
Eu sabia que dessa historia nada sairia, ele dizia que não era de namorar, não queria casar, não queria nada serio, acho que ele queria estar ali comigo apenas e eu estava bem ali, com ele.
Mas é obvio que eu sabia que ele não estava exatamente “ali”.
Meses se passarem e a historia virou namoro, a gente tinha um ao outro e nos dávamos bem.
Viajavamos juntos. Comprei uma barraca. Ele era escoteiro.
O que me atraia nele era sua esperteza, ele sabia fazer de tudo, só passava longe de livros e de estudo, coisa que me preocupava. Mas eu não queria mais nada alem do que tínhamos mesmo.
Só que o nosso coração é um lugarzinho tão misterioso e surpreendente que eu me apaixonei. Eu queria ele do jeito que era. Agora eu o achava lindo. Era um sorriso ainda mais lindo do que os do passado. Era um carinho absurdamente gostoso. Mas o “ali” era um lugar vazio. Ele era distante.
Tivemos tantos momentos bons, tantas historias, tantas viagens, mas poucas palavras. Mesmo com essas poucas nós construímos algo em nossas mentes, a certeza de que queríamos coisas diferentes para o nosso futuro. No meu futuro eu o queria, no dele não havia espaço para ninguém.
E era tão difícil entende-lo, porque ele não poderia me querer também? E assim seria perfeito porque eu estava madura, pronta para aquilo! Mas ele estava pronto apenas para si próprio.
Mas insistência era o meu segundo nome e eu fui ate o fim. Ate o fim do namoro.
Um belo, ou melhor, um triste sábado ele veio ate minha casa e disse que era melhor terminarmos porque ele sabia que mais pra frente eu sofreria ainda mais. Disse que gostava muito de mim e fazia isso mais por mim do que por ele mesmo. Nada mudaria. Eu havia fracassado.
Essa sensação de fracasso me atormentou por dias. Eu não sabia dizer se o que eu sentia era amor ou se era apenas saudade daquele que me acompanhou por 9 meses. Mas eu sabia que o queria. A razão dizia que não, e assim estava tudo em seu lugar.
Mas em que lugar ficaria o meu coração despedaçado?

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Capitulo 8: Maturidade

Algo diferente aconteceu nessa época. Eu saia, viajava, me curtia. É claro que era ainda a mesma menina sentindo falta de um companheiro, mas todas as minhas relações me deixaram tão frustrada.
O gremlin já estava em são Paulo novamente, nos vimos, ficamos, mas o sentimento não voltou. Se perdera em algum canto da Itália.
Eu entrei na academia, comecei a trabalhar como uma louca e comprei o meu primeiro carro.
Liberdade, essa era a palavra. Fui para a praia dirigindo, passeava pela cidade, pegava minhas amigas em suas casas e íamos pra balada, todas apertadinhas no meu pequeno Clio. Eu amava dirigi-lo, ele era o meu mais novo namorado.
A vida teve um novo sentido, eu me dedicava a profissão que escolhera e amava o que fazia. Passei por diversas situações difíceis em meu trabalho e consegui sempre resolver tudo da melhor forma. Me sentia bem sucedida, não pensando no salário, mas em fazer aquilo que eu realmente gostava.
Estava tudo tão bom até que um dia entrei num dos sites de relacionamentos que tenho e vi um recado de um menino dizendo “oi prima”.
Eu nunca havia visto aquele rosto na minha vida. Respondi perguntando quem era e ele disse ser um primo distante. Na verdade nossos pais eram primos.
Depois desse dia começamos a conversar por MSN daí nasceu uma amizade.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Capitulo 7 – Salsa, o resgate

Foi então que liguei e marquei um encontro, ele não hesitou.
Nos encontramos, ficamos juntos e eu estava super feliz. Ele logo dispensou a pessoa com quem saia e desse dia em diante continuamos de onde paramos, só que agora com muita magoa da parte dele.
Meu querido Salsa era alguém tão diferente, ele tinha um coração bom, ele gostava de mim, qualquer um notaria isso, mas ele sabia ser cruel e agora ele tinha razão para isso. Ele se sentia trocado pelo Grem, e de alguma forma ele fora mesmo.
Mas nós insistimos, éramos muito apaixonados, nos conhecíamos como ninguém.
A historia me levou ate onde eu já não conseguia suportar mais. Uma tarde durante uma briga ele me bateu no rosto e depois daquele dia algo em mim morreu.
Como o meu amado Salsa poderia ter feito aquilo comigo? Porque precisei chegar ate esse ponto?
Era a hora de terminar, de seguir em frente, e eu nem tinha mais forças.
O fim foi algo totalmente estranho, ele entendeu, não tinha como retrucar, era obvio que nossa relação passou dos limites.
Voltei a vida de solteira ...
Mas agora existia um vazio tão grande dentro de mim. Eu encaro essa relação como um verdadeiro carma em minha vida e, apesar de parecer tão óbvio que o certo era terminar, ele fazia muita falta.
Nós dois eramos como um só, nos olhavamos e sabiamos o que o outro pensava, não tinhamos medo de ligar demais um pro outro, de brigar, falar o que era preciso, não tinhamos medo de nada, eramos melhores amigos, confidentes, uma relação que não sonho encontrar novamente.
É como se eu tivesse certeza que ele é a pessoa, mas totalmente imaturo para qualquer tipo de relação.
Eu precisava ficar longe da minha metade.
Até hoje me pego chorando às vezes com saudades dele! Não posso dizer que o amo como homem, mas o amo de uma forma totalmente diferente e na maioria das vezes parece impossível me manter distante.
Novamente solteira ...

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Capitulo 6 – As baladas

Juntei as amigas e fomos numa festa da faculdade.
Só havia um problema, era uma festa open bar e eu mal sabia o que era o álcool ate aquela noite.
Mas eu não queria saber, eu queria beber, esquecer, deixar a velha Camila e virar uma nova, menos intensa, mais descontraída, eu queria aprender a “ficar”.
Comecei a beber e não demorou muito para tudo mudar, agora tinha o joelho bambo, mas não era por alguém, era por total falta de controle do meu corpo. Eu via as pessoas rodando, e nenhuma delas parecia ser conhecida. Eu sentei na beira do palco e comecei a chorar.
Um menino se aproximou e uma das poucas coisas que consegui falar foi: - por favor, não se aproveite de mim.
Ele riu, era bonito, falou que ia pegar uma coca para eu tomar que poderia ajudar. Nisso minhas amigas surgiram no nada e começaram a me arrastar para fora da festa. Eu tentava explicar que estava esperando o garoto com a coca, mas elas não acreditavam, só riam e me puxavam.
Colocaram-me no carro de uma delas e la fomos nós, ate chegar no fim da rua e perceber que esquecemos de uma das meninas, e esta corria bêbada atrás do carro.
Lembro que aquela noite a menina que dirigia estava bêbada também, e eu estava tão mal que imaginava que ela ia bater o carro mas não tinha condições de me mover para mudar a situação. Eu pensava que iria morrer, mas estava tão ruim que talvez fosse melhor assim.
Mas calma, eu disse que seria uma parte boa da minha vida, depois dessa eu aprendi a beber, e se fiquei mal depois disso era porque queria, e algumas vezes eu quis mesmo, mas agora não chorava mais, eu sabia curtir.
Não recomendo a ninguém beber para sair, o fato de sair já é suficientemente bom, mas durante essa primeira fase eu devo admitir que exagerei.
Eu aprendi a beber, a ficar, a dançar na pista. Mas também aprendi que essa fase pra mim seria bem curta, de vez em quando é bom mas essa não é a Camila. Eu não sei bem ser mais uma apenas na vida de alguém, eu preciso ser a única, ser especial.
Ah, e sobre o garoto da Coca, um ano depois em outra festa eu o achei, ele veio falar comigo e avisei para as minhas amigas quem ele era. Ele realmente existiu.
Conheci varias pessoas, tive curtos relacionamentos inclusive um que não posso deixar passar batido.
Era meu aniversario de 23 anos, fomos numa balada chamada Happy News. Aquela noite foi especial. A maioria dos meus amigos estavam la comemorando comigo e dançamos a noite inteira.
Enquanto dançava na pista percebi que havia um garoto parecido com o meu Grem. É claro que fiquei mexida logo (o Grem estava na Italia e eu morria de saudades).
Um tempo depois ele veio falar comigo e logo estávamos nos beijando. Mas depois disso ele quis conversar e lembro que passamos o resto da noite fazendo isso. O meu China (sim, ele não era japonês) era um amor de pessoa, atencioso, bonito e engraçado.
Pegou meu telefone e ligou no dia seguinte. Só que eu já estava no Guarujá nos preparativos para a festa de natal.
Fiquei alguns dias na praia e nos falávamos durante horas por telefone sempre.
No dia 1 de janeiro de 2007 eu voltei e lá estava ele me esperando no metro! Nós começamos a namorar rápido e todo o romance durou longos 2 meses (risos).
Porque estou contando esta historia? Calma lá.
Um belo dia estou assistindo a um programa de TV e o vejo sendo entrevistado como o mais novo protagonista de uma novela da globo! Logo o telefone começou a tocar e todos sabiam: o meu ex-namorado agora era um global!
Enfim o romance havia terminado e nem tínhamos mais contato, estava novamente curtindo as baladas ...
As pessoas começaram a me ver de forma diferente, acredito. A maturidade foi substituída pela espontaneidade. Eu me tornei mais cara de pau, brincalhona, eu tinha grandes amigas e nessa fase eu aprendi a dar valor a elas.
Eu cheguei a pedir para o vocalista de uma banda tocar Ana Julia dizendo ser esse meu nome e dizendo que era meu aniversario, ganhei ate o chapéu de cawboy dele. Eu derrubei grade de DJ sendo disputada num cabo de guerra entre minha melhor amiga e um rapaz qualquer. Eu aproveitei muito.
Mas no final da noite, na minha cama, eu sentia falta de algo, falta de alguém, eu tinha meus 22 anos, solteira, baladeira e solitária. Eu queria alguém “ali”.
Eu sabia onde encontrar, eu só precisava de coragem e um bom plano. Depois de mais de 1 ano talvez o meu Salsa tivesse amadurecido. E eu o queria. Eu precisava sentir aquilo que sentia ao seu lado. Só ele poderia me dar aquela sensação de proteção, de segurança novamente. E eu iria resgata-lo.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Capitulo 5 – Gremlin

Foi assim que nossa historia começou, de uma forma estranha, racional e totalmente sincera.
Ainda com o coração despedaçado ao imaginar como estaria o Salsa, mas estava em parte feliz. A cada dia me envolvia mais e mais. Agora tinha uma relação madura, com um cara que morava sozinho, apaixonado por mim e disposto a me ensinar tudo o que sabia, e eu queria aprender esse novo jogo.
Voltar nessas situações, resgatar tanto o passado que tentei enterrar, me serve hoje como terapia, me faz enxergar o presente de forma clara, estudar meus erros, meus acertos e principalmente, eu vejo quantos momentos especiais tive. Não posso me permitir viver menos do que isso. A minha vida precisa de romance. Mas ainda não cheguei lá, voltemos ao meu doce romance do passado.
O Gremlin tinha algo diferente, ele já havia morado em outros países, era completamente depreendido, era muito bem resolvido e esse jeito despertava algo novo em mim, algo que eu detestava: o ciúmes.
Aprendi a lidar com ele e com a liberdade que me passava. Ele me incentivava a manter as amizades, a sair apenas com amigas algumas vezes, a ter meus momentos sozinha. E eu só o queria, mas tentava me mostrar uma boa aluna.
Mas como sempre os defeitos chegam (e que droga, sempre são o suficiente para acabar com meus romances?) ...
Ele era muito frio, calculista, não dava ponto sem nó e eu comecei a sentir falta do Salsa, aquele que era puro coração, agora eu namorava o Sr Razão.
Mas calma Camila, fique quieta! A essa altura o Salsa já estava se recuperando nos colos de outra (droga de sites de relacionamentos que nos mantêm informadas!).
E eu gostava do Grem, era normal comparar.
Foi então que surgiu a bomba, o meu namorado iria para mais uma viagem sem data certa para voltar, iria para a Itália, e eu ainda terminava minha faculdade.
Pensamos ate na possibilidade de eu realmente ir, mas no fundo nós dois sabíamos que isso não aconteceria, e ele terminou comigo levando em conta a bendita da razão.
Fundo do poço, ai fui eu novamente. Mas eu fui mais fundo ainda. Eu chorava igual uma criança, acredito que tenha juntado a frustração das duas relações.
Eu estava mal, me sentindo à pior das pessoas, sem as pessoas que eu gostava. Sim, no plural, porque com o fim o Salsa caiu como uma bigorna na minha cabeça, eu pensava demais nos dois.
De todos esses dramas e historias que passei algo tinha que ser realmente divertido, a fase a seguir eu recomendo a todos.
Eu comecei a sair para as baladas!

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Capitulo 4 – Gremlin, Salsa e Gremlin

Fomos ao cinema, assistimos um filme chatíssimo e não via a hora de acabar para poder conversar. Uma excelente lição, nunca escolha assistir um filme num encontro em que você precisa conversar.
O filme acabou, ele foi me deixar no metro que ia para a minha casa, sentido contrario do dele. E na hora do beijo de despedida (que claro, foi na bochecha) o relógio dele enganchou no meu cabelo.
Ah! Pelo menos dessa vez o desastrado foi ele. Depois de alguns minutos de guerra, muita aproximação com um desconhecido (afinal era a segunda vez que eu o via pessoalmente) o bendito se desprendeu e eu fui embora.
No caminho me bateu uma curiosidade absurda de saber o que ele achou.
Fui pra casa correndo para entrar no MSN e falar com ele e quando cheguei na minha rua um carro conhecido estava na porta de casa. O meu salsa.
Eu só queria que ele estivesse bem, que ele não sofresse, mas ao me ver ele logo soube. Eu estava maquiada, coisa rara. Isso cheirava a encontro com homem e ele desabou em lagrimas.
Foi embora chorando e eu com o coração partido entrei no MSN ainda com a esperança de encontrar o meu velho amigo online.
Já não estava mais tão animada, o encontro com o Salsa havia acabado comigo, mas ao entrar eu vi aquele nome que tanto queria online e ele logo veio falar comigo.
Aparentemente teve a mesma idéia. É claro, ligar logo após um encontro é dar muita bandeira, mas MSN é MSN.
Começamos a conversar e ele perguntou se no dia seguinte eu gostaria de ir a casa dele. Eu me animei, pensei que isso me ajudaria a sair da fossa. Era só não deixar meu ex saber para não ficar pior e eu nem pensaria em voltar, porque eu estava me distraindo com alguém que adorava.
No dia seguinte me arrumei ainda mais, brincos novos, maquiagem feita pelas amigas, perfume, a roupa favorita e lá fui eu encontrá-lo.
Ele morava sozinho num apartamento pequeno, mas bem legal. Na mesa um jantar e então caiu a minha cara, eu sempre tive medo de ter comida no dente por isso nunca comia nos primeiros encontros. Mas espera lá, eu estava encarando aquilo como um encontro?
Consegui descontrair quando olhei dentro da travessa e vi um arroz roxo, olhei para ele e vi um sorriso meio envergonhado e ele disse não saber o que houve de errado. Colocou algumas coisas para dar um gosto diferente e pronto, era um arroz roxo.
Durante o jantar tentei falar o menos que pude (coisa difícil de acontecer) com medo de ter um arroz roxo no meu dente, e quando falava mantinha os lábios serrados e devo ter ficado estranha, admito.
Na primeira oportunidade corri para o banheiro e vi que estava tudo como deveria estar. Quando voltei para a sala o vi sentado no colchão (sim, o sofá estava sendo reformado e no lugar havia um colchão). Então ele colocou um filme qualquer que nem me preocupei em saber o nome e estava ansiosa esperando para saber o que aconteceria.
Sentei ao lado dele e ainda no trailer ele virou, debruçou na minha frente, disse algo que não entendi e me beijou. Durante o beijo eu só conseguia pensar no que ele poderia ter falado. Mas era um beijo bom, ele tinha aquilo que chamamos de “pegada”, e com ele senti algo novo. Algo que nunca imaginei que sentiria com ele. Eu queria mais.
Claro que após o beijo eu perguntei o que ele havia falado e jamais esqueci essa frase, por mais simples que fosse ela significou muito no dia. Ele disse: - Não vou assistir mais um filme ao seu lado passando vontade de fazer isso.
Dormimos abraçados aquela noite, rimos da situação depois de anos. Quando ele cochilou eu só olhava para o teto, mais uma vez eu tinha alguém, eu sabia que o Gremlin estava “ali”.
Nessa mesma época o Techno voltou com o surgimento de um site relacionamentos chamado Orkut e a nossa amizade continuou exatamente de onde havia parado. Eu estava muito feliz com os dois por perto novamente, mas o fato de saber que o Salsa estava mal, e ainda ligava chorando, acabava comigo.
Foi então que o Gremlin percebeu que algo estava errado e eu contei tudo, disse inclusive que não sabia se ainda gostava dele, que estava confusa.
Ele me disse para ir encontrá-lo, que seria o único jeito de saber. E lá fui eu.
O Salsa foi me buscar em casa e saímos para conversar, agora o meu coração estava partido pelo Gremlin, pois eu sabia que havia partido o coração dele, mesmo com uma atitude madura e racional dessas, eu sabia que ele sofria.
Quando o encontrei o meu coração se inundou de alegria. Eu me sentia tão feliz ao lado dele. Uma hora ou outra o meu pensamento voltava para o meu querido amigo (agora colorido).
A noite foi passando e não demorou muito para brigarmos, eu percebi que nada mudaria, que mesmo o amando tanto aquele era o jeito dele comigo. E eu não aceitaria mais essa relação, agora eu queria maturidade, e eu sabia onde encontrar.
Quando ele me deixou em casa, com o rosto abatido e a certeza de que era o ultimo encontro o meu celular tocou, eu beijei sua bochecha e pulei correndo para fora do carro. Era ele! Meu Gremlin, ops, meu? Será que eu estava apaixonada?
Atendi e ele me disse: - Deu certo?
Respondi que não e rapidamente ele respondeu: - estou indo te buscar.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Capitulo 3 – O Salsa

Depois de quase um mês usando aquela porcaria de gesso eu peguei uma tesoura e num momento de rebeldia arranquei tudo.
Estava na casa do meu pai e tinha apenas um sapato, porque apenas um pé podia ser calçado ate então.
Peguei um chinelo da minha madrasta e fui ao shopping comprar um tênis.
Liguei para ele e marquei um encontro à tarde.
Comprei meu all star e la fui feliz, animada, com as velhas e tão desejadas borboletas na barriga. E sim, os joelhos estavam bambos, alias mais bambos do que nunca porque alem do nervoso eu mal lembrava como se andava com duas pernas, durante um mês eu só pulava.
Mais uma vez estava eu la, indo para um metro, encontrar o meu SALSA. Ah sim, com o passe na mão.
Ele havia dito ser narigudo, mas na foto que mandou não dava para ver muito bem porque estava de frente.
Quando cheguei vi um menino parecido com ele, mas era um nariz pouco maior que o normal, se assim posso dizer.
Parei do lado do menino e fiquei esperando. Comecei a olhar ele discretamente e então vi que era bonitinho. Mas calma Camila, aguarde o seu narigudo.
O tempo foi passando e o rapaz também esperava alguém. De vez em quando me olhava e disfarçava. Foi então que eu pensei que realmente poderia ser ele. A foto era meio de longe, mas parecia ser ele sim.
Cheguei perto e chamei-o pelo nome com um tom interrogativo.
Ele virou e me abraçou. Foi um abraço tão gostoso que eu poderia ficar horas ali, mas como mal o conhecia estava totalmente dura, pensando no que eu faria depois disso.
Bom, o Salsa tinha 17 anos, estava no colegial, gostava de rock. Estava com uma camisa da Itália, era alto, branquinho, cabelo ralinho, quase careca, magro, era brincalhão, falante, inteligente, adorava gibis e o que era melhor, estava com aquele olhar, de quem estava “ali”.
Não demorou nada para chamarmos nossa relação de namoro e nosso sentimento de amor. Com ele eu me sentia ainda mais a vontade, adorava que ele falava sobre tudo, com todos, era o centro de todas as rodas, tinha um ótimo humor e cuidava de mim como nunca ninguém cuidou antes. Eu me sentia uma privilegiada. Que sorte eu sentia ao lado dele. Eu era tão feliz.
Devem estar se perguntando o que aconteceu? Porque eu conto a minha historia solteira. Sim, não deu certo.
O Salsa era mais um ciumento, ele parecia ter perdido o amor próprio ao estar comigo, fazia tudo por mim e se impunha pouco, eu dançava em cima dele. A balança cai para um lado e sobe para o outro.
Mas ainda assim ele tinha tantas coisas legais. Pena que em nossas brigas ele se tornava um louco.
Uma hora ele era o namorado dos sonhos, outra ele me ofendia com todo tipo de palavra e fazia escândalos na frente de qualquer pessoa, o que me deixava furiosa.
Passaram três anos de lindas e tristes historias, mas acima de tudo de muita cumplicidade e amor e resolvi terminar. Eu queria respeito e havia chegado à conclusão que uma vez perdido, "adios".
Ai conheci o fundo do poço, um lugar que nunca havia visitado.
Era uma sensação de frustração muito grande, o meu Salsa, parecia ser o meu perfeito Beto, e ele me achava a Barbie, me elogiava dia e noite, ele me queria, ele queria casar, queria tudo o que eu sempre sonhei, mas o respeito era algo que eu deveria considerar, eu estava certa, o meu Salsa deveria ir embora, mas ele queria ainda estar “ali”.
Ele me ligava dia e noite, chorava, brigava, não entendia, e a cada ligação o meu coração perdia um pedaço, ele realmente doía, eu queria que ele ficasse bem sem mim. Eu queria o respeito, ele me queria.
Foi quando recebi a ligação do Gremlin, agora morando em são Paulo. Meu deus! O meu amigo agora do meu lado.
Marcamos um encontro e lá fui eu encontrá-lo aonde? No metro!
É importante dizer que as coisas haviam mudado ainda mais, uma nova Camila iria encontrar um velho amigo. O corpinho magrelo ganhou algumas curvas, as espinhas se foram e a alto estima chegou.
E quando cheguei lá estava ele me esperando e eu com meu passe na mão.
O meu querido amigo, mestiço, sorridente, misterioso e só me restava saber uma coisa, ele estava “ali”?

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Capitulo 2 – O guitarrista

Capitulo 2 – O guitarrista

Saimos algumas vezes em duas semanas e era ótimo, eu logo estava à vontade com ele e era exatamente isso que eu queria, poder me sentir a vontade ao lado de um menino.
Dias depois o Tatu me procurou novamente, e eu desmiolada aceitei um encontro. Só que ele acabou aparecendo na minha casa e isto não estava no script.
A minha total falta de imposição deixou que ele logo achasse que estava tudo bem novamente, ele estava sentado no meu sofá fingindo que nada havia acontecido e de alguma forma eu tentava corresponder só pensando que não conseguiria sair nunca mais dessa situação e que daria adeus ao meu guitarrista.
Foi quando o telefone tocou e eu atendi rapidamente. Do outro lado uma voz conhecida e linda, o guitarrista.
Eu dizia “alo, alo” e ouvia-o dizendo também do outro lado e perguntando se eu conseguia ouvi-lo. Desliguei o telefone e disse para o meu “namorado” que não ouvia nada.
Tocou novamente e repeti a mesma ridícula situação. Na terceira vez que tocou ele foi mais ligeiro e pegou o telefone, minha barriga deu um nó. Ele me olhou com aquele olhar matador e disse o nome do meu apaixonado guitarrista. Eu atendi e disse que outra hora retornaria.
Expliquei para ele que tinha conhecido esse menino e que era com ele que eu ia ficar, coisa que deveria ter feito bem antes, mas tinha uma cabecinha muito fraca. Eu queria todos, eu sei que queria todos me querendo porque eu achava a principio que jamais teria sequer um.
Mas aquela noite eu sabia que tinha perdido o meu tatu. Sabia que a bonitinha se mostrou como realmente era, uma menina como outra qualquer, capaz de se apaixonar, de magoar, de mentir. E eu tinha consciência dos meus erros, eu me sentia péssima por ter magoado tanto alguém que eu gostei de alguma forma, qual forma mesmo?
Liguei para o guitarrista e começamos a nossa historia, a Camila do guitarrista era diferente da Camila do Tatu. Agora eu era mais boazinha, havia recuperado um pouco daquela maturidade que diziam que eu tinha demais para a idade.
Esse namoro foi mágico, a gente conseguia manter uma amizade muito forte ao mesmo tempo. Sabíamos que um estava “ali” pro outro, a gente se entendia como poucos. Ele era o meu melhor amigo, o meu cúmplice.
Depois de alguns dias eu descobri o porquê daquele olhar triste.
O meu guitarrista tinha seu drama. Sua mãe fora presa alguns anos atrás após se envolver com um rapaz “barra pesada”. Ele não perdoara sua mãe por isso. Vivia com o pai, a irmã e a madrasta e sua relação com o pai também não era das melhores.
O meu garoto grunge viu na minha família a sua e foi recebido da mesma forma. Com o tempo o olhar triste era apenas o olhar apaixonado. Ele tocava violão com a voz engasgando ao perceber que eu olhava. Ele me buscava na escola. Ligava-me algumas vezes durante o dia. Ele me completava e eu o completava.
O drama dele era o estudo e eu, acostumada com o mundo nerd, achava isso a grande pedra na nossa relação.
Ah, enquanto isso eu perdi o contato com o Techno, sentia falta das nossas conversas, da maturidade dele para a idade também, nossas conversas cabeças eram verdadeiras terapias online e eu perdera isso. Eu o perdi.
Mas é claro que o meu elétrico e xavequeiro Gremlin ainda ligava com certa freqüência, me contava seus dramas, seus romances, e sua vontade de estar mais perto de mim.
O meu namorado não gostava nada e era um dos poucos motivos que eu dava para ele brigar. Mas eu sabia resolver com o meu jeitinho. Eu queria os dois, porque é claro, ainda era eu!
Um dia resolvi conhecer a minha querida sogra. Entrei em contato com sua mãe e ela, toda animada é claro, disse que colocaria meu nome na lista de visitantes do Carandiru.
Meu namorado parecia enlouquecido com a idéia e, mesmo sem entender nada disse que não deixaria eu ir sozinha. Mal sabia que a idéia era essa, eu queria que ele falasse com ela, queria dar a aquela mulher a oportunidade de ter seu filho de volta. Não sabia por que eu fazia isso, mas eu sabia que precisava, e que tinha meu jeitinho de conseguir.
Numa bela manha de domingo, num lugar nada belo, estávamos lá, eu, meu namorado e seus avós maternos. Aquele portão horroroso abriu e fomos divididos em duas filas, uma de homens e outra de mulheres.
Entrei numa sala quando chegou minha vez e tive que abaixar minhas calças ate o joelho e abaixar três humilhantes vezes. A seguir tive que levantar a blusa e pronto, segui para um corredor ao ar livre com pequenos prédios ao redor (acredito que cada um devia ser uma das famosas “alas do Carandiru”).
Quando chegamos num grande pátio vi logo uma mulher erguer-se do chão e correr de encontro a nós com os braços abertos. Era ela, e ela não sabia que estaríamos ali.
Aquele com certeza foi um dos momentos mais felizes da minha vida. Sim, porque eu sabia que trouxe essa oportunidade para o menino que eu amava. E ele se esquecera de tudo naquele instante, ele só abraçava a sua mãe como uma criança que volta das férias. Ele tinha os olhos cheios de lagrimas e me olhava.
A seguir ela me abraçou e depois tivemos uma tarde muito gostosa juntos.
O que me assustou foi à quantidade de crianças naquele pátio, visitando suas mães. E para eles aquilo parecia tão normal. Para mim parecia um filme triste onde eu me continha para não derramar lagrimas por elas.
Com o tempo o amor virou pura amizade, o romance foi sumindo, foram dois anos de historias lindas, de uma tatuagem nas costas dele com uma Fênix e o meu nome surgindo das chamas. Eu estava novamente presa em uma situação que não me agradava e não sabia e nem queria me livrar dele.
Eu o queria ainda ali porque ele era tão especial, mas eu sentia falta da paixão, eu agora sabia jogar o jogo e queria um novo.
Dois anos depois, com meus 17 anos eu terminei.
Sozinha, tinha apenas o Gremlin longe, e ele não despertava algo em mim alem da amizade, eu gostava daquele sorriso, mas não imaginava nada alem do que tínhamos. Eu queria me apaixonar por alguém!
Meses se passaram e nada. Na escola já no 3º ano eu era uma garota legal. Tinha minha turminha, sabia conversar melhor com os meninos, mas não via em nenhum deles algo diferente.
Aquilo era desesperador, será que eu estava certa no começo? Uma Susi sem Beto?
Ainda era aquela garota magrela, com o mesmo tamanho, agora já estava na estatura media para a idade. Não tinha piercings nem tatuagens, nunca me encaixei em nenhuma tribo, gostava de todo tipo de musica, de todo tipo de gente. Será que eu não tinha personalidade?
Eu sentia que me anulei nas relações e que eu precisava me resgatar. Descobrir quem eu era, ou quem eu queria ser.
Era o terceiro ano e eu nem sabia a faculdade que faria. Estava mais próxima do direito por influencia do meu pai, mas aquilo não me animava tanto. Eu queria animação, borboletas na barriga, eu queria mesmo era os joelhos bobos novamente.
Depois de muito pensar, chorar, devorar livros e dormir eu pensei novamente na minha grande amiga, a internet ... Ela sempre me deu sorte, se é que podemos chamar de sorte, não sei bem, mas enfim, ela sempre me trouxe algo de especial.
Mas na época o Mirc já havia sido devorado por milhões de pessoas, a internet agora era mais acessível e as possibilidades de encontrar alguém realmente interessante haviam diminuído muito.
Não, o Mirc não me ajudaria.
Foi então que em um Mural de recados de um site famoso eu encontrei um texto de um menino, era mais ou menos assim:

“Essa é a forma mais louca de encontrar alguém, e mais arriscada. Para ser sincero nem acredito que realmente dê certo, mas acho que vale a pena tentar.
Estou apenas à procura de alguém especial.
É isso.
Ass. Salsa”

Eu li, desliguei o computador e fui dormir. Aquele recado não saia da minha cabeça, eu tentava imaginar como era aquele menino, o porquê dele estar ali também querendo alguém especial. Parecia algo tão louco, mas eu compreendia, eu queria responder, eu rezava para no dia seguinte achar o recado!
Foi então que eu vi que a noite seria longa, levantei e voltei para o computador, entre milhões de recados (já que o dele já havia se embaralhado com outros) eu achei o dele novamente e agora tinha certeza que tinha que responder. Era um mar de recados! E eu achara! Beto, é você? Risos.
Mandei um recado no dia seguinte ele respondeu dizendo que ficou curioso para me conhecer melhor.
Trocamos telefones, começamos a conversar e um dia antes do grande encontro eu quebrei o pé. Estava engessada, sem poder pisar no chão e assim fiquei por um mês.
Conversavamos todo dia, a tarde toda, contando as horas para o grande encontro.
Ele parecia incrível, ele era tão, tão legal.
Lembro que na época eu estava muito feliz, ele era o tipo de cara que eu sonhava em ter ... agora eu tinha o meu Salsa, ali, bem ali.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Se o amor fosse poker, hoje poderia dizer que perdi todas as minhas fichas de aposta. Game over.
Depois de nove meses tentando entende-lo, viver com seus defeitos, tentando algo impossível como “viver um dia de cada vez” (impossível pelo menos para uma garota sonhadora como) ele desistiu de nós.
Acho que tudo começou na época das Barbies, triste era a que não tinha seu Ken. E eu sempre tive um Ken para cada uma delas. E elas eram lindas, legais, o tipo de mulher que todo homem quer, e elas tinham exatamente o que eu queria, o seu Ken, perfeito para elas, apaixonado. A verdade é que eu só queria alguém que estivesse ali, sabe ali, naquele lugar por mim. Naquele lugar onde nenhuma outra mulher conseguiria entrar, e melhor, naquele lugar onde eu sempre poderia encontrar.
Resumindo todo o meu drama amoroso, tudo começou em 1998 quando eu tinha meus lindos e ingênuos 14 anos...

Capitulo 1 – MIRC

Para quem não sabe o MIRC (ou IRC) é um programa que surgiu numa época em que internet era pra poucos e eu fazia parte dessa turma.
Era um bate papo cheio de canais criados pelos próprios usuários.
Eu era apenas uma garota de 14 anos que nunca tinha beijado e que achava que esse dia jamais chegaria. Sentia-me a Susi (estranha), e esta estava longe de chegar perto de qualquer Beto (o par romântico da Susi).
Minha irmã Carolina me apresentou o programa e eu não tinha nenhum interesse, achava estranho ficar conversando com outras pessoas desconhecidas pelo computador.
Todos os finais de semana na casa do nosso pai, ah, esqueci de dizer que meus pais são separados... Então, todos esses finais de semana eu a via papeando numa sala de bate papo chamada #amorzinho.
Um dia resolvi tentar e conheci três pessoas: Tatu, Techno Tiger e o Gremlin.
De repente eu percebi uma coisa, ali eu poderia ser quem eu quisesse, ou talvez eu pudesse ser eu mesma, mas fisicamente (o que achava ser meu grande problema) eles não me veriam. Então eu conseguiria ser a garota legal que sempre me considerei no corpo de qualquer menina que eles quisessem imaginar (e na internet eles imaginam...)
Antes de começar acho que seria interessante falar como eu era. Bom, era uma garota alta pra idade, já devia ter meus 1.68m, uns 46 kg, branca, cabelos e olhos castanhos claros, com algumas espinhas típicas da fase adolescente, mas por sorte elas combinavam de vir cada uma em sua fase, não era um rostinho tão judiado assim. O que eu adorava em mim? Nada, era adolescente poxa! O que eu não gostava? Ta, de toda a lista poderia citar que o que menos gostava era o fato de ficar vermelha só de imaginar um menino vindo falar comigo.
Agora voltemos aos três grandes protagonistas desse capitulo, ah droga, revelei a importância já deles em minha primeira fase.
Aparentemente, os 3 se interessaram pelo meu papo e ai surgiram três interessantes amizades. Em meio a papos bobos e conversas ate interessantes para a nossa idade surgiam alguns xavecos, mas eu não sabia lidar muito bem com eles na época.
Ah claro, meu apelido (nickname) era “_bonitinha”.
Foi então que depois de meses de papo com estes três e mais outras pessoas menos importantes surgiu o primeiro IRcontro, sim, o português esta certo, ou melhor, não existe essa palavra no nosso português. Ela foi criada com certeza por um nerd da época com muita inspiração para nomear os encontros que saiam do MIRC.
Então naquela noite eu sabia apenas que veria o Tatu, e para mim estava bom porque dos três ele me despertava algo mais.
O Tatu era um garoto que morava na vila mariana em são Paulo, ele tinha 18 anos e havia acabado de passar no curso de engenharia. Ele tinha a famosa “@” na frente de seu nome no amorzinho e isto significa que ele era um dos que comandava, ele tirava quem quisesse, e isso para uma garota de 14 anos é muito atrativo (pelo menos para a garota que eu era).
Chegou o grande dia, íamos num karaokê, coisa que na época estava entrando na moda. Eu e a minha irmã fomos com nosso pai. Não consigo esquecer como conheci pessoalmente o primeiro homem da minha vida (sou um tanto dramática, certo?). Meu pai estacionou o carro e na calçada havia um grupo de jovens e, como já era o segundo Ircontro da minha irmã ela já idenficou todo mundo. Foi quando eu vi um menino dando um passo para trás e sumindo atrás de outro menino. Eu sabia que aquele era o tatu, o meu primeiro amor...
Ele era loiro, de olhos azuis, exatamente do meu tamanho (o que foi um pouco frustrante), era um pouquinho acima do peso e estava bem longe de ser algo semelhante ao meu Ken, mas mesmo assim eu não era mesmo a Barbie, certo? Susi, Susi ...
Quando saímos nos apresentamos e todos eram tão animados, tão divertidos e ta, um pouquinho nerds (alguns bastante), mas eu sempre adorei nerds, alias, eu sempre me achei nerd!
Nessa noite eu não me lembro de ter trocado muitas palavras com o tatu, ele parecia pouco a vontade ao meu lado, alguns momentos se esforçava para sentar perto e isso pra mim já era o suficiente. Ele parecia estar “ali”.
A noite foi passando, eu pouco falei, todos cantaram menos eu. Chegou à hora de ir embora e lembro ter chegado em casa com estrelinhas nos olhos e borboletas na barriga. Era o começo da sensação de empolgação que me seguiria firmemente por muitos anos.
O dia seguinte foi absurdamente esperado, é claro, não via à hora de encontrar todos online e saber o que acharam de tudo. Principalmente encontrar o meu tatu e saber se ele continuaria o mesmo comigo.
Encontrei o Techno e ele estava triste por não poder ir. Já o Gremlin parecia animado apenas por sentir minha empolgação.
Foi quando encontrei o tatu e pronto, ele era ainda mais falante, mais atencioso e aparentemente ele estava apaixonado por mim. APAIXONADO POR MIM. Não era possível que eu tivesse encontrado o meu Beto, sim porque eu era a Susi. Mas mesmo assim a minha pouca semelhança com a Susi chegava absurdamente mais perto do que a dele com o Beto ou qualquer outro ”boneco-par-romântico” que pudesse ser inventado.
Foi então que começou o nosso romance, ele elogiava, eu correspondia. Chegava correndo da escola e ia encontrá-lo, poderia nem ter muito papo no dia, mas estávamos os dois ali, simplesmente... online.
Às vezes nos falávamos por telefone, o que não era muito do meu agrado, pois eu não gostava muito da voz dele, mas eu gostava dele. Hoje acho que gostava dele porque ele gostava de mim, é simples assim. Eu gostava dele porque ele era o único que estava ali.
Foi então que surgiu o segundo encontro e desse eu sabia que não escaparia dele.
Fomos ao mesmo Karaokê, só que dessa vez tinha algo diferente, ou melhor, alguém.
Foi aquela noite que conheci o Techno.
O Techno tinha 13 anos, era alto, cabelo comprido, perfeito para o meu gosto aos 14 anos, era meu Jordan Taylor Hanson. E ele parecia estar interessado, mas me confundia, não sabia dizer ao certo.
Mas espera, o meu tatu estava lá e ele correspondia!
A noite passava, o tatu sentava numa cadeira do meu lado e eu pulava pra outra, eu ia pra uma roda, ele vinha atrás, eu ia pra outra. Ate que uma hora ele puxou a cadeira em que eu estava sentada de frente pra cadeira dele e eu estava presa, e agora?
Foi desesperador, ele esperava uma oportunidade da minha boca estar livre e perto o suficiente para ele dar o beijo certeiro, sem chance de erro. Estava tudo calculado pelo engenheiro que eu sonhava em beijar, mas eu só sonhava, eu não tinha certeza do quanto eu seria boa nisso.
Acredito que depois de umas 3 horas de conversa e de câimbras de tanto eu manter o pescoço virado para os lados ele veio, ele acertou, ele me beijou e foi... Foi horrível. Uma língua passeando rapidamente pela minha boca, invadindo toda a minha privacidade, estourando a minha bolha intima completamente. Eu, uma garota que abraçava curvada, que beijava correndo, que não lidava muito com o contato humano a não ser os carinhos da minha mãe, estava ali, sendo beijada de língua, de língua.
Quando acabou eu sabia que todos estavam atentos e alegres, não vi ao certo a reação da minha irmã foi um pouco constrangedor saber que ela estaria ali. E o Techno, ele também estava ali com uma expressão de quem perdeu a batalha, mas não a guerra.
Aquela noite cheguei em casa, deitei e fiquei olhando o teto por horas, eu precisava arrumar as coisas na minha cabeça, eu precisava ter certeza de que aquilo não era um sonho.
Isso tudo aconteceu em abril, depois desse dia eu me esquivava para o segundo encontro, passaram dois meses e eu resolvi encará-lo, marcamos então o nosso segundo encontro. Ate então só trocamos palavras de carinho pelo computador.
Esse dia aconteceu um episódio engraçado, que fique claro que é engraçado hoje porque no dia foi tão constrangedor.
Eu nunca havia pegado metro sozinha, alias eu tinha pegado metro pouquíssimas vezes na minha vida. Combinamos de nos encontrar na catraca, numa estação próxima a minha casa. Eu morava na zona leste, ele atravessou a cidade para me encontrar, tão fofo!
Minha mãe me deixou no metro e lá fui eu de encontro ao meu tatu, ao meu segundo beijo. Minha barriga estava completamente revirada, os passos deixaram de ser automáticos e eu sentia que meu joelho estava um pouco bobo. Quando cheguei à catraca eu o avistei na parte de dentro, dei um sorriso bobo (com certeza as bochechas estavam vermelhas e ate pensei se poderia ter o zíper da calça aberto). Calma garota estava tudo saindo correto, você se olhou mil vezes no espelho, GO!
E foi então que a catraca me barrou! Fui para trás e tentei novamente e ela novamente me barrou! E de repente ele, o garoto que não deveria de forma alguma estar vendo essa cena, levantou um passe de metro. Mas é claro, eu não tinha um passe.
Voltei para o guichê, comprei o passe e fui vê-lo com cara de tonta. E ele era tão, tão incrível que achou graça. Ele ainda gostava de mim mesmo sendo tonta.
Ele me aguardava com uma caixa, disse que não sabia se poderia chamar nossa relação de namoro, mas como estava próximo do dias dos namorados ele resolveu me presentear com um perfume.
Depois desse dia começamos a nos ver com freqüência, e eu fui entendendo o que era um namoro. Ele era ciumento, briguento e adorava me falar de seus antigos relacionamentos com outras meninas. E eu estava ali do lado dele simplesmente pelo fato dele estar ali.
Passaram-se meses, passou um ano. A nossa relação passava longe de ser algo saudável, mas eu não falava com ninguém sobre isso. Não me lembro nem de ter amigas interessadas em ouvir meus conflitos internos. Na época eu guardava tudo pra mim e sofria na mão de um menino que sabia jogar aquele jogo. Eu estava apenas começando, e foi com o pé esquerdo.
Surgiram outros Ircontros e entre eles um muito importante, o grande dia de conhecer o Gremlin, o misterioso, xavequeiro e absurdamente engraçado Gremlin.
Era aniversario de minha irmã, todos foram, inclusive o Tatu (bravo para variar).
Eu estava fora do salão sentada num banco, no escuro da noite, iluminada pela pouca luz da lua e de um poste de luz fraca ao meu lado.
Foi quando vi passar o Fire (um dos amigos virtuais) e outro garoto. Eu sabia que o Fire era da mesma cidade que o Gremlin (Jau), e sabia que esta noite eu o conheceria, então logo deduzi que era ele.
O Gremlin tinha 15 anos, era mestiço de japonês com italiano, uma mistura que deu muito certo no caso dele. Ele era elétrico, falava pulando, tinha uma boca enorme (e linda) e um sorriso que me desconcertava. Foi quando o Fire me avistou e os dois vieram na minha direção. Ele me apresentou pelo nome e o Gremlin me cumprimentou sem muito interesse e parecia ansioso para entrar no salão.
Acompanhei eles festa adentro e logo o Tatu me avistou com um olhar repreendedor. Minutos depois, após o ser mais elétrico da festa conhecer todos, virou com olhar curioso e perguntou para a roda: Cadê a bonitinha?
Minha cara caiu, eu imaginei que ele esperava algo muito melhor de mim e com certeza achou que aquela não era a garota que ele sonhava ver.
O Fire apontou para mim e ele abriu novamente aquele sorriso. Eu devo ter ficado vermelha para variar, sorri de volta e fui para o lado do Tatu.
Esta noite foi bem desastrosa, eu mal interagia com meus amigos e parentes, eu mal interagia com o Techno tímido e anulado em uma das rodas e com o Gremlin que estava sempre falando algo com alguém, mesmo sem conhecer e entre uma e outra piada eu percebia que ele sempre me procurava no salão.
Voltando ao relacionamento, depois de um ano e meio de brigas bobas (a maioria por causa de ciúmes de amigos e da minha família) nós terminamos.
Seria importante dizer que nesse um ano e meio eu mantive contato com o Gremlin e o Techno? E seria importante dizer que principalmente o Gremlin fazia questão de mostrar interesse por mim? Mas eu não sabia jogar aquilo, eu queria todos os jogadores por perto. De repente eu tinha três Betos e não passava pela minha cabeça me livrar deles.
O fim chegou. Eu terminei sem olhar pra trás, sem sofrer, sem chorar, eu adoro lembrar como era na época!
Minhas “amizades” com os outros dois continuou. O Gremlin morava em outra cidade então era difícil sairmos da situação virtual e o Techno, ah, apenas me confundia. Estava mais pra amizade e eu era feliz com essa relação assim.
Um tempinho depois eu conheci o Guitarrista no Mirc. Eu estava mais esperta, sabia "flertar", sabia o que queria.
Marcamos um encontro, pra variar no metro. Quando cheguei ao local combinado, agora com passe na mão, mas infelizmente com os joelhos bobos novamente, eu avistei um garoto de cabelo comprido, brincos nas duas orelhas, roupa grunge e um sorriso lindo.
Ele veio ao meu encontro e me beijou na boca, um beijo de língua, demorado e maravilhoso.
Havia nele um olhar triste e ao mesmo tempo apaixonado.
Eu estava apaixonada por um lindo guitarrista e o melhor de tudo é que eu tinha certeza que ele já estava “ali”.

Continua ...