sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Capitulo 2 – O guitarrista

Capitulo 2 – O guitarrista

Saimos algumas vezes em duas semanas e era ótimo, eu logo estava à vontade com ele e era exatamente isso que eu queria, poder me sentir a vontade ao lado de um menino.
Dias depois o Tatu me procurou novamente, e eu desmiolada aceitei um encontro. Só que ele acabou aparecendo na minha casa e isto não estava no script.
A minha total falta de imposição deixou que ele logo achasse que estava tudo bem novamente, ele estava sentado no meu sofá fingindo que nada havia acontecido e de alguma forma eu tentava corresponder só pensando que não conseguiria sair nunca mais dessa situação e que daria adeus ao meu guitarrista.
Foi quando o telefone tocou e eu atendi rapidamente. Do outro lado uma voz conhecida e linda, o guitarrista.
Eu dizia “alo, alo” e ouvia-o dizendo também do outro lado e perguntando se eu conseguia ouvi-lo. Desliguei o telefone e disse para o meu “namorado” que não ouvia nada.
Tocou novamente e repeti a mesma ridícula situação. Na terceira vez que tocou ele foi mais ligeiro e pegou o telefone, minha barriga deu um nó. Ele me olhou com aquele olhar matador e disse o nome do meu apaixonado guitarrista. Eu atendi e disse que outra hora retornaria.
Expliquei para ele que tinha conhecido esse menino e que era com ele que eu ia ficar, coisa que deveria ter feito bem antes, mas tinha uma cabecinha muito fraca. Eu queria todos, eu sei que queria todos me querendo porque eu achava a principio que jamais teria sequer um.
Mas aquela noite eu sabia que tinha perdido o meu tatu. Sabia que a bonitinha se mostrou como realmente era, uma menina como outra qualquer, capaz de se apaixonar, de magoar, de mentir. E eu tinha consciência dos meus erros, eu me sentia péssima por ter magoado tanto alguém que eu gostei de alguma forma, qual forma mesmo?
Liguei para o guitarrista e começamos a nossa historia, a Camila do guitarrista era diferente da Camila do Tatu. Agora eu era mais boazinha, havia recuperado um pouco daquela maturidade que diziam que eu tinha demais para a idade.
Esse namoro foi mágico, a gente conseguia manter uma amizade muito forte ao mesmo tempo. Sabíamos que um estava “ali” pro outro, a gente se entendia como poucos. Ele era o meu melhor amigo, o meu cúmplice.
Depois de alguns dias eu descobri o porquê daquele olhar triste.
O meu guitarrista tinha seu drama. Sua mãe fora presa alguns anos atrás após se envolver com um rapaz “barra pesada”. Ele não perdoara sua mãe por isso. Vivia com o pai, a irmã e a madrasta e sua relação com o pai também não era das melhores.
O meu garoto grunge viu na minha família a sua e foi recebido da mesma forma. Com o tempo o olhar triste era apenas o olhar apaixonado. Ele tocava violão com a voz engasgando ao perceber que eu olhava. Ele me buscava na escola. Ligava-me algumas vezes durante o dia. Ele me completava e eu o completava.
O drama dele era o estudo e eu, acostumada com o mundo nerd, achava isso a grande pedra na nossa relação.
Ah, enquanto isso eu perdi o contato com o Techno, sentia falta das nossas conversas, da maturidade dele para a idade também, nossas conversas cabeças eram verdadeiras terapias online e eu perdera isso. Eu o perdi.
Mas é claro que o meu elétrico e xavequeiro Gremlin ainda ligava com certa freqüência, me contava seus dramas, seus romances, e sua vontade de estar mais perto de mim.
O meu namorado não gostava nada e era um dos poucos motivos que eu dava para ele brigar. Mas eu sabia resolver com o meu jeitinho. Eu queria os dois, porque é claro, ainda era eu!
Um dia resolvi conhecer a minha querida sogra. Entrei em contato com sua mãe e ela, toda animada é claro, disse que colocaria meu nome na lista de visitantes do Carandiru.
Meu namorado parecia enlouquecido com a idéia e, mesmo sem entender nada disse que não deixaria eu ir sozinha. Mal sabia que a idéia era essa, eu queria que ele falasse com ela, queria dar a aquela mulher a oportunidade de ter seu filho de volta. Não sabia por que eu fazia isso, mas eu sabia que precisava, e que tinha meu jeitinho de conseguir.
Numa bela manha de domingo, num lugar nada belo, estávamos lá, eu, meu namorado e seus avós maternos. Aquele portão horroroso abriu e fomos divididos em duas filas, uma de homens e outra de mulheres.
Entrei numa sala quando chegou minha vez e tive que abaixar minhas calças ate o joelho e abaixar três humilhantes vezes. A seguir tive que levantar a blusa e pronto, segui para um corredor ao ar livre com pequenos prédios ao redor (acredito que cada um devia ser uma das famosas “alas do Carandiru”).
Quando chegamos num grande pátio vi logo uma mulher erguer-se do chão e correr de encontro a nós com os braços abertos. Era ela, e ela não sabia que estaríamos ali.
Aquele com certeza foi um dos momentos mais felizes da minha vida. Sim, porque eu sabia que trouxe essa oportunidade para o menino que eu amava. E ele se esquecera de tudo naquele instante, ele só abraçava a sua mãe como uma criança que volta das férias. Ele tinha os olhos cheios de lagrimas e me olhava.
A seguir ela me abraçou e depois tivemos uma tarde muito gostosa juntos.
O que me assustou foi à quantidade de crianças naquele pátio, visitando suas mães. E para eles aquilo parecia tão normal. Para mim parecia um filme triste onde eu me continha para não derramar lagrimas por elas.
Com o tempo o amor virou pura amizade, o romance foi sumindo, foram dois anos de historias lindas, de uma tatuagem nas costas dele com uma Fênix e o meu nome surgindo das chamas. Eu estava novamente presa em uma situação que não me agradava e não sabia e nem queria me livrar dele.
Eu o queria ainda ali porque ele era tão especial, mas eu sentia falta da paixão, eu agora sabia jogar o jogo e queria um novo.
Dois anos depois, com meus 17 anos eu terminei.
Sozinha, tinha apenas o Gremlin longe, e ele não despertava algo em mim alem da amizade, eu gostava daquele sorriso, mas não imaginava nada alem do que tínhamos. Eu queria me apaixonar por alguém!
Meses se passaram e nada. Na escola já no 3º ano eu era uma garota legal. Tinha minha turminha, sabia conversar melhor com os meninos, mas não via em nenhum deles algo diferente.
Aquilo era desesperador, será que eu estava certa no começo? Uma Susi sem Beto?
Ainda era aquela garota magrela, com o mesmo tamanho, agora já estava na estatura media para a idade. Não tinha piercings nem tatuagens, nunca me encaixei em nenhuma tribo, gostava de todo tipo de musica, de todo tipo de gente. Será que eu não tinha personalidade?
Eu sentia que me anulei nas relações e que eu precisava me resgatar. Descobrir quem eu era, ou quem eu queria ser.
Era o terceiro ano e eu nem sabia a faculdade que faria. Estava mais próxima do direito por influencia do meu pai, mas aquilo não me animava tanto. Eu queria animação, borboletas na barriga, eu queria mesmo era os joelhos bobos novamente.
Depois de muito pensar, chorar, devorar livros e dormir eu pensei novamente na minha grande amiga, a internet ... Ela sempre me deu sorte, se é que podemos chamar de sorte, não sei bem, mas enfim, ela sempre me trouxe algo de especial.
Mas na época o Mirc já havia sido devorado por milhões de pessoas, a internet agora era mais acessível e as possibilidades de encontrar alguém realmente interessante haviam diminuído muito.
Não, o Mirc não me ajudaria.
Foi então que em um Mural de recados de um site famoso eu encontrei um texto de um menino, era mais ou menos assim:

“Essa é a forma mais louca de encontrar alguém, e mais arriscada. Para ser sincero nem acredito que realmente dê certo, mas acho que vale a pena tentar.
Estou apenas à procura de alguém especial.
É isso.
Ass. Salsa”

Eu li, desliguei o computador e fui dormir. Aquele recado não saia da minha cabeça, eu tentava imaginar como era aquele menino, o porquê dele estar ali também querendo alguém especial. Parecia algo tão louco, mas eu compreendia, eu queria responder, eu rezava para no dia seguinte achar o recado!
Foi então que eu vi que a noite seria longa, levantei e voltei para o computador, entre milhões de recados (já que o dele já havia se embaralhado com outros) eu achei o dele novamente e agora tinha certeza que tinha que responder. Era um mar de recados! E eu achara! Beto, é você? Risos.
Mandei um recado no dia seguinte ele respondeu dizendo que ficou curioso para me conhecer melhor.
Trocamos telefones, começamos a conversar e um dia antes do grande encontro eu quebrei o pé. Estava engessada, sem poder pisar no chão e assim fiquei por um mês.
Conversavamos todo dia, a tarde toda, contando as horas para o grande encontro.
Ele parecia incrível, ele era tão, tão legal.
Lembro que na época eu estava muito feliz, ele era o tipo de cara que eu sonhava em ter ... agora eu tinha o meu Salsa, ali, bem ali.

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