quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Se o amor fosse poker, hoje poderia dizer que perdi todas as minhas fichas de aposta. Game over.
Depois de nove meses tentando entende-lo, viver com seus defeitos, tentando algo impossível como “viver um dia de cada vez” (impossível pelo menos para uma garota sonhadora como) ele desistiu de nós.
Acho que tudo começou na época das Barbies, triste era a que não tinha seu Ken. E eu sempre tive um Ken para cada uma delas. E elas eram lindas, legais, o tipo de mulher que todo homem quer, e elas tinham exatamente o que eu queria, o seu Ken, perfeito para elas, apaixonado. A verdade é que eu só queria alguém que estivesse ali, sabe ali, naquele lugar por mim. Naquele lugar onde nenhuma outra mulher conseguiria entrar, e melhor, naquele lugar onde eu sempre poderia encontrar.
Resumindo todo o meu drama amoroso, tudo começou em 1998 quando eu tinha meus lindos e ingênuos 14 anos...

Capitulo 1 – MIRC

Para quem não sabe o MIRC (ou IRC) é um programa que surgiu numa época em que internet era pra poucos e eu fazia parte dessa turma.
Era um bate papo cheio de canais criados pelos próprios usuários.
Eu era apenas uma garota de 14 anos que nunca tinha beijado e que achava que esse dia jamais chegaria. Sentia-me a Susi (estranha), e esta estava longe de chegar perto de qualquer Beto (o par romântico da Susi).
Minha irmã Carolina me apresentou o programa e eu não tinha nenhum interesse, achava estranho ficar conversando com outras pessoas desconhecidas pelo computador.
Todos os finais de semana na casa do nosso pai, ah, esqueci de dizer que meus pais são separados... Então, todos esses finais de semana eu a via papeando numa sala de bate papo chamada #amorzinho.
Um dia resolvi tentar e conheci três pessoas: Tatu, Techno Tiger e o Gremlin.
De repente eu percebi uma coisa, ali eu poderia ser quem eu quisesse, ou talvez eu pudesse ser eu mesma, mas fisicamente (o que achava ser meu grande problema) eles não me veriam. Então eu conseguiria ser a garota legal que sempre me considerei no corpo de qualquer menina que eles quisessem imaginar (e na internet eles imaginam...)
Antes de começar acho que seria interessante falar como eu era. Bom, era uma garota alta pra idade, já devia ter meus 1.68m, uns 46 kg, branca, cabelos e olhos castanhos claros, com algumas espinhas típicas da fase adolescente, mas por sorte elas combinavam de vir cada uma em sua fase, não era um rostinho tão judiado assim. O que eu adorava em mim? Nada, era adolescente poxa! O que eu não gostava? Ta, de toda a lista poderia citar que o que menos gostava era o fato de ficar vermelha só de imaginar um menino vindo falar comigo.
Agora voltemos aos três grandes protagonistas desse capitulo, ah droga, revelei a importância já deles em minha primeira fase.
Aparentemente, os 3 se interessaram pelo meu papo e ai surgiram três interessantes amizades. Em meio a papos bobos e conversas ate interessantes para a nossa idade surgiam alguns xavecos, mas eu não sabia lidar muito bem com eles na época.
Ah claro, meu apelido (nickname) era “_bonitinha”.
Foi então que depois de meses de papo com estes três e mais outras pessoas menos importantes surgiu o primeiro IRcontro, sim, o português esta certo, ou melhor, não existe essa palavra no nosso português. Ela foi criada com certeza por um nerd da época com muita inspiração para nomear os encontros que saiam do MIRC.
Então naquela noite eu sabia apenas que veria o Tatu, e para mim estava bom porque dos três ele me despertava algo mais.
O Tatu era um garoto que morava na vila mariana em são Paulo, ele tinha 18 anos e havia acabado de passar no curso de engenharia. Ele tinha a famosa “@” na frente de seu nome no amorzinho e isto significa que ele era um dos que comandava, ele tirava quem quisesse, e isso para uma garota de 14 anos é muito atrativo (pelo menos para a garota que eu era).
Chegou o grande dia, íamos num karaokê, coisa que na época estava entrando na moda. Eu e a minha irmã fomos com nosso pai. Não consigo esquecer como conheci pessoalmente o primeiro homem da minha vida (sou um tanto dramática, certo?). Meu pai estacionou o carro e na calçada havia um grupo de jovens e, como já era o segundo Ircontro da minha irmã ela já idenficou todo mundo. Foi quando eu vi um menino dando um passo para trás e sumindo atrás de outro menino. Eu sabia que aquele era o tatu, o meu primeiro amor...
Ele era loiro, de olhos azuis, exatamente do meu tamanho (o que foi um pouco frustrante), era um pouquinho acima do peso e estava bem longe de ser algo semelhante ao meu Ken, mas mesmo assim eu não era mesmo a Barbie, certo? Susi, Susi ...
Quando saímos nos apresentamos e todos eram tão animados, tão divertidos e ta, um pouquinho nerds (alguns bastante), mas eu sempre adorei nerds, alias, eu sempre me achei nerd!
Nessa noite eu não me lembro de ter trocado muitas palavras com o tatu, ele parecia pouco a vontade ao meu lado, alguns momentos se esforçava para sentar perto e isso pra mim já era o suficiente. Ele parecia estar “ali”.
A noite foi passando, eu pouco falei, todos cantaram menos eu. Chegou à hora de ir embora e lembro ter chegado em casa com estrelinhas nos olhos e borboletas na barriga. Era o começo da sensação de empolgação que me seguiria firmemente por muitos anos.
O dia seguinte foi absurdamente esperado, é claro, não via à hora de encontrar todos online e saber o que acharam de tudo. Principalmente encontrar o meu tatu e saber se ele continuaria o mesmo comigo.
Encontrei o Techno e ele estava triste por não poder ir. Já o Gremlin parecia animado apenas por sentir minha empolgação.
Foi quando encontrei o tatu e pronto, ele era ainda mais falante, mais atencioso e aparentemente ele estava apaixonado por mim. APAIXONADO POR MIM. Não era possível que eu tivesse encontrado o meu Beto, sim porque eu era a Susi. Mas mesmo assim a minha pouca semelhança com a Susi chegava absurdamente mais perto do que a dele com o Beto ou qualquer outro ”boneco-par-romântico” que pudesse ser inventado.
Foi então que começou o nosso romance, ele elogiava, eu correspondia. Chegava correndo da escola e ia encontrá-lo, poderia nem ter muito papo no dia, mas estávamos os dois ali, simplesmente... online.
Às vezes nos falávamos por telefone, o que não era muito do meu agrado, pois eu não gostava muito da voz dele, mas eu gostava dele. Hoje acho que gostava dele porque ele gostava de mim, é simples assim. Eu gostava dele porque ele era o único que estava ali.
Foi então que surgiu o segundo encontro e desse eu sabia que não escaparia dele.
Fomos ao mesmo Karaokê, só que dessa vez tinha algo diferente, ou melhor, alguém.
Foi aquela noite que conheci o Techno.
O Techno tinha 13 anos, era alto, cabelo comprido, perfeito para o meu gosto aos 14 anos, era meu Jordan Taylor Hanson. E ele parecia estar interessado, mas me confundia, não sabia dizer ao certo.
Mas espera, o meu tatu estava lá e ele correspondia!
A noite passava, o tatu sentava numa cadeira do meu lado e eu pulava pra outra, eu ia pra uma roda, ele vinha atrás, eu ia pra outra. Ate que uma hora ele puxou a cadeira em que eu estava sentada de frente pra cadeira dele e eu estava presa, e agora?
Foi desesperador, ele esperava uma oportunidade da minha boca estar livre e perto o suficiente para ele dar o beijo certeiro, sem chance de erro. Estava tudo calculado pelo engenheiro que eu sonhava em beijar, mas eu só sonhava, eu não tinha certeza do quanto eu seria boa nisso.
Acredito que depois de umas 3 horas de conversa e de câimbras de tanto eu manter o pescoço virado para os lados ele veio, ele acertou, ele me beijou e foi... Foi horrível. Uma língua passeando rapidamente pela minha boca, invadindo toda a minha privacidade, estourando a minha bolha intima completamente. Eu, uma garota que abraçava curvada, que beijava correndo, que não lidava muito com o contato humano a não ser os carinhos da minha mãe, estava ali, sendo beijada de língua, de língua.
Quando acabou eu sabia que todos estavam atentos e alegres, não vi ao certo a reação da minha irmã foi um pouco constrangedor saber que ela estaria ali. E o Techno, ele também estava ali com uma expressão de quem perdeu a batalha, mas não a guerra.
Aquela noite cheguei em casa, deitei e fiquei olhando o teto por horas, eu precisava arrumar as coisas na minha cabeça, eu precisava ter certeza de que aquilo não era um sonho.
Isso tudo aconteceu em abril, depois desse dia eu me esquivava para o segundo encontro, passaram dois meses e eu resolvi encará-lo, marcamos então o nosso segundo encontro. Ate então só trocamos palavras de carinho pelo computador.
Esse dia aconteceu um episódio engraçado, que fique claro que é engraçado hoje porque no dia foi tão constrangedor.
Eu nunca havia pegado metro sozinha, alias eu tinha pegado metro pouquíssimas vezes na minha vida. Combinamos de nos encontrar na catraca, numa estação próxima a minha casa. Eu morava na zona leste, ele atravessou a cidade para me encontrar, tão fofo!
Minha mãe me deixou no metro e lá fui eu de encontro ao meu tatu, ao meu segundo beijo. Minha barriga estava completamente revirada, os passos deixaram de ser automáticos e eu sentia que meu joelho estava um pouco bobo. Quando cheguei à catraca eu o avistei na parte de dentro, dei um sorriso bobo (com certeza as bochechas estavam vermelhas e ate pensei se poderia ter o zíper da calça aberto). Calma garota estava tudo saindo correto, você se olhou mil vezes no espelho, GO!
E foi então que a catraca me barrou! Fui para trás e tentei novamente e ela novamente me barrou! E de repente ele, o garoto que não deveria de forma alguma estar vendo essa cena, levantou um passe de metro. Mas é claro, eu não tinha um passe.
Voltei para o guichê, comprei o passe e fui vê-lo com cara de tonta. E ele era tão, tão incrível que achou graça. Ele ainda gostava de mim mesmo sendo tonta.
Ele me aguardava com uma caixa, disse que não sabia se poderia chamar nossa relação de namoro, mas como estava próximo do dias dos namorados ele resolveu me presentear com um perfume.
Depois desse dia começamos a nos ver com freqüência, e eu fui entendendo o que era um namoro. Ele era ciumento, briguento e adorava me falar de seus antigos relacionamentos com outras meninas. E eu estava ali do lado dele simplesmente pelo fato dele estar ali.
Passaram-se meses, passou um ano. A nossa relação passava longe de ser algo saudável, mas eu não falava com ninguém sobre isso. Não me lembro nem de ter amigas interessadas em ouvir meus conflitos internos. Na época eu guardava tudo pra mim e sofria na mão de um menino que sabia jogar aquele jogo. Eu estava apenas começando, e foi com o pé esquerdo.
Surgiram outros Ircontros e entre eles um muito importante, o grande dia de conhecer o Gremlin, o misterioso, xavequeiro e absurdamente engraçado Gremlin.
Era aniversario de minha irmã, todos foram, inclusive o Tatu (bravo para variar).
Eu estava fora do salão sentada num banco, no escuro da noite, iluminada pela pouca luz da lua e de um poste de luz fraca ao meu lado.
Foi quando vi passar o Fire (um dos amigos virtuais) e outro garoto. Eu sabia que o Fire era da mesma cidade que o Gremlin (Jau), e sabia que esta noite eu o conheceria, então logo deduzi que era ele.
O Gremlin tinha 15 anos, era mestiço de japonês com italiano, uma mistura que deu muito certo no caso dele. Ele era elétrico, falava pulando, tinha uma boca enorme (e linda) e um sorriso que me desconcertava. Foi quando o Fire me avistou e os dois vieram na minha direção. Ele me apresentou pelo nome e o Gremlin me cumprimentou sem muito interesse e parecia ansioso para entrar no salão.
Acompanhei eles festa adentro e logo o Tatu me avistou com um olhar repreendedor. Minutos depois, após o ser mais elétrico da festa conhecer todos, virou com olhar curioso e perguntou para a roda: Cadê a bonitinha?
Minha cara caiu, eu imaginei que ele esperava algo muito melhor de mim e com certeza achou que aquela não era a garota que ele sonhava ver.
O Fire apontou para mim e ele abriu novamente aquele sorriso. Eu devo ter ficado vermelha para variar, sorri de volta e fui para o lado do Tatu.
Esta noite foi bem desastrosa, eu mal interagia com meus amigos e parentes, eu mal interagia com o Techno tímido e anulado em uma das rodas e com o Gremlin que estava sempre falando algo com alguém, mesmo sem conhecer e entre uma e outra piada eu percebia que ele sempre me procurava no salão.
Voltando ao relacionamento, depois de um ano e meio de brigas bobas (a maioria por causa de ciúmes de amigos e da minha família) nós terminamos.
Seria importante dizer que nesse um ano e meio eu mantive contato com o Gremlin e o Techno? E seria importante dizer que principalmente o Gremlin fazia questão de mostrar interesse por mim? Mas eu não sabia jogar aquilo, eu queria todos os jogadores por perto. De repente eu tinha três Betos e não passava pela minha cabeça me livrar deles.
O fim chegou. Eu terminei sem olhar pra trás, sem sofrer, sem chorar, eu adoro lembrar como era na época!
Minhas “amizades” com os outros dois continuou. O Gremlin morava em outra cidade então era difícil sairmos da situação virtual e o Techno, ah, apenas me confundia. Estava mais pra amizade e eu era feliz com essa relação assim.
Um tempinho depois eu conheci o Guitarrista no Mirc. Eu estava mais esperta, sabia "flertar", sabia o que queria.
Marcamos um encontro, pra variar no metro. Quando cheguei ao local combinado, agora com passe na mão, mas infelizmente com os joelhos bobos novamente, eu avistei um garoto de cabelo comprido, brincos nas duas orelhas, roupa grunge e um sorriso lindo.
Ele veio ao meu encontro e me beijou na boca, um beijo de língua, demorado e maravilhoso.
Havia nele um olhar triste e ao mesmo tempo apaixonado.
Eu estava apaixonada por um lindo guitarrista e o melhor de tudo é que eu tinha certeza que ele já estava “ali”.

Continua ...

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